sábado, 25 de março de 2017

O Ponto de Ônibus

O Ponto de Ônibus


Local do Ponto do ônibus, em 15/01/14.

SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO –

2 – MOTIVAÇÃO –

3 – TRABALHO REALIZADO –

4 – CONFLITOS DO TRABALHO –

5 – CONSEQUÊNCIAS DOS CONFLITOS –

6 – CONCLUSÕES –

7 – BIBLIOGRAFIA –


Fig. 1 - Solicitação em 14/01/14




1 – INTRODUÇÃO

            Foi dado o início ao processo de solicitação formal à Prefeitura de Maceió para edificação do ponto de ônibus da Av. S. Rita, no Bairro do Farol, Maceió/AL, em 14/01/14, conforme consta na Fig. 1, no início desse texto.
            É interessante pesquisar as prováveis razões que determinaram o desenrolar de prejuízos para a sociedade nesse episódio, sobretudo os vetores de força existentes ao longo do processo:

            A) O conjunto de pessoas a favor da colocação do ponto de ônibus.

            Pode-se contar como parte desse conjunto os usuários do transporte coletivo e os que adquiriram uma consciência que pugna pela sustentabilidade do planeta como tal. Muitos trabalhos acadêmicos já constataram que o uso intensivo do automóvel já tem os seus dias contados, por isso os mais informados sabem que as nações mais desenvolvidas incentivam ao máximo o uso da bicicleta. Nesses países, obras como viadutos e túneis são construídas exclusivamente para o trânsito de bicicletas.
            Fazem parte também os moradores do local que anseiam pela colocação desse ponto de ônibus, pois são constrangidos até no momento da entrada nos seus lares, uma vez que os fatigados passageiros, devido à longa e angustiante espera pela chegada do coletivo, procuram se abrigar nas portas das casas. Esse fato é sempre minimizado porque é sempre um número pequeno de prejudicados, que são os que residem muito próximos da parada do ônibus, como se o mandamento mais importante da Lei de Deus não advertisse: “Amar ao próximo como a si mesmo”. Já houve casos de moradores desistirem de enfeitar suas calçadas com plantas ornamentais, pois a população do ponto do ônibus sempre destruía as plantas e os canteiros ao procurar um local para descansar.
            Com relação ao item 4 da Fig. 1, também acredita-se que os condutores de veículos, no momento em que se encontram obstruídos pelo ônibus estacionado no trecho estreito da Av. S. Rita, sejam totalmente a favor de uma parada de ônibus devidamente bem localizada, de modo que o coletivo não obstrua totalmente a via pública.

            B) O conjunto de pessoas momentaneamente contra a colocação do ponto de ônibus.

            Entre os componentes desse grupo podem-se destacar obviamente os guardadores de veículos da Avenida. Pode-se alegar que esse tipo de atividade é benéfico porque supre uma renda e uma ocupação para quem poderia estar praticando delitos. Contudo trata-se de um subemprego e a garantia de que eles estariam ocupados com o trabalho pode ser pura ilusão, já que ficam a maior parte do tempo ociosos. A evidente prática de delitos está comprovada até nesse episódio, pois uma moradora sofreu ameaças constantes a ponto de ter preferido se mudar a ter que enfrentar as agressões, tendo sua residência sido depredada, e sua genitora ter sofrido risco de morte ao ver uma gigantesca pedra cair no local em que ela se encontrava, no interior de sua residência. Além do mais, o que a marginalidade mais precisa é de um local que possa tranquilamente utilizar como ponto de observação para sugar suas presas. Em segundo plano, pode-se supor que alguns comerciantes necessitam de espaço para alojar os veículos de seus clientes e esses marginais são naturalmente seus aliados. Em terceiro plano vêm algumas autoridades, que comungam dos ideais filantrópicos dessas pessoas que defendem o subemprego e permitem abertamente a prática da contravenção, ao se omitirem de tomar providências quanto ao estacionamento prejudicial sobre as calçadas. A tese defendida aqui pode ser comprovada ao se verificar veículos estacionados junto ao ponto do ônibus, dificultando em muito o trânsito dos pedestres no passeio público, a chegada do coletivo no ponto, e a presença dos usuários na parada oficial do ônibus.
            A Fig. 2, que testemunha a época do atendimento do nosso pedido, já realça parte do que foi descrito nessas linhas anteriores.


Fig. 2 - Colocação do ponto pela SMTT, em janeiro de 2016.

2 – MOTIVAÇÃO

            Sabe-se dos prejuízos causados aos cidadãos quando a convivência entre eles ocorre numa sociedade fissurada. Aplica-se essa definição para a sociedade em que seus componentes não se comunicam, não interagem, e por isso não podem se defender quando prejudicados por um setor da sociedade que se organiza e detêm um tipo qualquer de poder. Podemos exemplificar o que já ocorria na Alemanha, muito antes do uso do celular ou da Internet. Muitos consumidores se sentiram lesados por uma grande empresa que fabricava máquinas de costura. Eles se comunicaram e assumiram o compromisso de não mais adquirir produtos daquela empresa, além de planejar uma grande campanha para conseguir adesão, mesmo dos que ainda não tinham sido prejudicados. Assim que a empresa soube do movimento, procurou imediatamente todos os prejudicados para reparar os danos causados.
            Portanto esse texto tem a finalidade de conscientizar os cidadãos de sua força latente e que pode ser utilizada, desde que se organizem para uma ação bem planejada. As Bibliografias 7.1 e 7.2 reforçam esse ponto de vista.

3 – TRABALHO REALIZADO 


            O pedido foi alicerçado no abaixo assinado de sete moradores do logradouro, representando um pleito que se supõe ser o desejo unânime de todos os moradores e, principalmente, dos usuários do transporte coletivo naquela importante artéria da Capital. Foi escolhido um ponto de ônibus próximo daquele local para servir de padrão, o qual se ajusta plenamente às dimensões do local do pleito e preenche as demandas descritas nos itens de 1 a 4 da Fig. 1. Todo esse esforço, por parte dos solicitantes, visava a despertar o interesse das autoridades e demonstrar a urgência desse tipo de solicitação.
            Como isso não ocorreu por parte dos técnicos da SMTT no momento em que devia ter sido providenciada a colocação do ponto de ônibus, o trabalho continuou com novos requerimentos e telefonemas para esse Órgão da Prefeitura de Maceió.
            A Fig. 3 trata de um panfleto destinado a informar aos usuários do transporte coletivo o andamento do trabalho, ao mesmo tempo em que convoca a todos para efetuarem ligações para a SMTT. De acordo com esse panfleto, o responsável pelos pontos de ônibus na SMTT declara que é muito difícil a obtenção de uma placa indicativa do ponto do ônibus. Em decorrência disso, protocolamos outro requerimento no Gabinete do Prefeito, em 08/07/14, em que oferecemos a colocação de uma placa sem custo para a SMTT, com um conteúdo semelhante ao que mostramos na Fig. 4. Não obtivemos resposta.
            A luta teve o seu seguimento e uma cidadã voltou a ligar para a SMTT no final do ano de 2015. Dessa vez quem atendeu foi uma pessoa que se mostrou sensibilizada pela aflição dos que aguardam a chegada do ônibus e pela angústia dos moradores daquele logradouro. Ela achou um absurdo essa exagerada demora em atender uma coisa tão simples e de tão grande utilidade e prometeu muito em breve colocar o ponto no devido lugar.
            No dia 08/01/16, pudemos fotografar o ponto já residindo na Av. S. Rita (Ver Fig. 2). Essa figura comprova a cultura do automóvel, que não respeita as calçadas para uso dos pedestres, nem as distâncias regulamentares que devem ser mantidas para estacionamento de veículos nas proximidades de um ponto de ônibus.



 Fig. 3 - Panfleto exortando a população a se comunicar com a SMTT.




Fig. 4 - A população sugere a utilização de uma placa ociosa.



4 – CONFLITOS DO TRABALHO 

            Quem mais sofreu foi a moradora que teve que se mudar. Ela reclamou várias vezes devido ao estacionamento de veículos em frente à entrada de sua garagem e sobre a calçada. Um funcionário da SMTT esteve no local e declarou que o local não era caracterizado como calçada. O resultado foi ela passar a ser “difamada” por atrair multas para os veículos ali estacionados. Veículos com som fortíssimo passaram a estacionar na frente da casa durante a noite e outros métodos de tortura semelhantes foram aplicados.


5 – CONSEQUÊNCIAS DOS CONFLITOS 

            A principal consequência é o descrédito da população na correta aplicação do dinheiro pago pelos impostos e principalmente da justa aplicação das leis. Isso causa o desânimo e a proliferação de um sentimento de impotência total no conjunto dos cidadãos prejudicados.


6 – CONCLUSÕES 

            6.1) Percebe-se que a cultura que impõe o acomodamento diante das violências e injustiças causadas ao cidadão é retratada até nos pequenos detalhes, como é o caso dos funcionários da Prefeitura que varrem a Av. S. Rita, e recolhem o lixo que foi gentilmente ali depositado (Ver Fig. 5). Falamos com um desses funcionários e constatamos um sorriso de prazer e de alegria quando ele acabou de ouvir a nossa argumentação: “O Senhor bem poderia estar plantando tomates, ao invés de estar limpando o que foi feito como um ato de contravenção”. Sabe-se que nos países desenvolvidos, as multas aplicadas a quem pratica esse tipo de delito são significativas. Explicamos também a ele que o salário dele é pago pelo imposto pago por todos, porém nem todos tem esse tipo de serviço na rua onde moram. Recentemente, flagramos um morador se rebelando contra o estacionamento de veículos delituoso junto ao ponto de ônibus na Av. S. Rita (Ver Fig. 6).



Fig. 5 – Varredor de rua na Av. S. Rita.


Fig. 6 – Postes de ferro, corrente e inscrições no portão da garagem na Av. S. Rita.


            6.2) Um exemplo do ajustamento da população ao infortúnio é mostrado na Fig. 7: todos unidos ao longo da sombra projetada pelo poste da Eletrobrás forçando uma adaptação para a falta de uma cobertura no ponto de ônibus, que se encontra a alguns metros à esquerda, na Av. S. Rita.



Fig. 7 – Todos em pé e unidos na sombra do poste, sem reclamar, na Av. S. Rita.

            6.3) Caso haja pessoas que concordem, iremos iniciar um abaixo assinado para solicitar ao Sr. Prefeito uma cobertura e assentos para o ponto de ônibus existente na Av. S. Rita, Farol, Maceió/AL. Essa conclusão era de se esperar, pois o presente texto demonstra que há um interesse em incentivar a esperança nas pessoas, a todo custo, usando as ferramentas que estão ao nosso alcance, que é a manutenção da história, tornando-a viva para que não venhamos a repetir os mesmos equívocos.As duas sugestões de leitura dos livros relacionados abaixo, ilustram esse nosso ponto de vista:

O HORROR ECONÔMICO
Forrester, Viviane; tradução Álvaro Lorencini, São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1997.
            Título original: L’horreur économique.


O povo não deve sentir a verdade da usurpação: ela foi um dia introduzida sem razão e tornou-se razoável; é preciso fazer que ela seja vista como autêntica, eterna, e esconder o seu começo se não quisermos que logo tenha fim.
                                   Pascal, Pensamentos


A OPÇÃO BRASILEIRA
Benjamin, César et al. Rio de Janeiro: Contraponto Editora Ltda, 1998.


Criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente descobertas originais; significa também, e sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, socializá-las por assim dizer; transformá-las portanto em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral. O fato de que uma multidão de pessoas seja levada a pensar coerentemente e de maneira unitária a realidade presente é um fato “filosófico” bem mais importante e original do que a descoberta, por parte de um gênio, de uma nova verdade que permaneça como patrimônio de pequenos grupos intelectuais.
                                   Antônio Gramsci, Concepção dialética da história


            Estas duas leituras são recomendadas porque a primeira nos coloca no cerne da problemática atual da sociedade, e a segunda nos mostra uma possibilidade de encaminhamento de uma solução aplicada ao problema brasileiro.



7 – BIBLIOGRAFIA 

7.1 – Rua Triunfo, Capítulos de I a V, Postagem de janeiro de 2014 no site www.repolitica.blogspot.com.
7.2 – Água de Oswaldo Cruz, Postagem de março de 2015 no site www.coisasdopeixoto.blogspot.com.
7.3 – O Ponto de Ônibus – Postagem de março de 2017 no site www.coisasdopeixoto.blogspot.com.