quinta-feira, 30 de junho de 2016

ENARC S/A Engenharia de Fundações



ENARC S/A – Engenharia de Fundações



SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO –

2 – MOTIVAÇÃO –

3 – TRABALHO REALIZADO –

4 – CONFLITOS DO TRABALHO –

5 – CONSEQUÊNCIAS DOS CONFLITOS –

6 – CONCLUSÕES –

7 – BIBLIOGRAFIA –







1 – INTRODUÇÃO - No dia 05/04/72, comecei o meu trabalho como engenheiro de obras na ENARC S/A, conforme as figuras A1 a A4.


Fig. A1 – Carteira de trabalho (1) 


Fig. A2 – Carteira de trabalho (2) 


Fig. A3 – Carteira de trabalho (3) 


Fig. A4 – Carteira de trabalho (4)


            Chegando ao Rio de Janeiro em meados de março de 1972, passei a comprar o Jornal do Brasil e entrar nas longas filas para inscrição no mercado de trabalho, conforme os endereços nos anúncios escolhidos. Geralmente só era possível uma tentativa por dia, pois quando a fila se desfazia por não haver mais vagas, a hora já era avançada e todos os outros locais também já tinham ocupado suas vagas. Uma vez me desesperei e solicitei qualquer emprego na obra, até de servente, tal foi a minha angústia de ver o tempo passar e o dinheiro da reserva sendo gasto. O senhor que atendia se compadeceu e disse que eu não fizesse isso. Em seguida, ele me forneceu o endereço da Internacional Engenharia e um cartão de recomendação. Fui até lá e fui muito bem recebido, porém só havia chance para quem tivesse experiência em projetos. Comia pão doce com refrigerante até que comecei a sentir dores no peito e fraqueza. Fiquei atemorizado e passei a gastar um pouco mais, comendo um prato feito de vez em quando. Depois de duas semanas de tentativas, encontrei um anúncio com endereço no bairro de Maria da Graça, subúrbio do Rio de Janeiro, próximo a Estação de Del Castilho. Fui recebido por um jovem, engenheiro mecânico, que me levou para o interior do prédio. Vi que era uma enorme oficina mecânica e fui logo dizendo que não condizia com as minhas pretensões. Ele disse que eu me acalmasse, pois ali eram apenas as oficinas da firma, que na realidade era uma empresa de construção civil. Fiquei mais feliz ainda quando ele disse que eu já estava escolhido. Conforme sua orientação, eu deveria entrar na fila de inscrições no outro dia, na Rua México, Centro do Rio de Janeiro, por pura formalidade. Assim aconteceu. A euforia foi tanta, que pensamentos ridículos me vieram à cabeça, como o de ter o nome da empresa na camisa para que todos vissem que eu estava empregado.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Departamento de Obras Públicas (D.O.P.)

Departamento de Obras Públicas do Estado de Alagoas (D.O.P.)

Prédio do D.O.P., em 27/04/17.




ÍNDICE

1 – INTRODUÇÃO –

2 – MOTIVAÇÃO –

3 – TRABALHO REALIZADO –

4 – CONFLITOS DO TRABALHO –

5 – CONSEQUÊNCIAS DOS CONFLITOS –

6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES –

7 – BIBLIOGRAFIA -


Página 1 (Capa)




    1 – INTRODUÇÃO - No dia 01/03/64, comecei o meu estágio nessa Autarquia, conforme o documento apresentado nas figuras A1, A2 e A3.

Fig. A1 – Carteira de Trabalho (1)


            Esse primeiro emprego foi uma consequência da minha aprovação no concurso para a Escola de Engenharia no início do ano de 1963. Como fizemos as primeiras disciplinas teóricas durante o primeiro ano de estudos, fiquei impaciente por não vislumbrar uma forma de aquisição da prática da engenharia. Tive uma idéia e arquitetei um plano para conseguir um estágio condizente com esse desejo. Meu colega do grupo de trabalhos escolares e futuro cunhado, Talvanes Silva Braga, dispunha de uma Kombi 1962, presenteada por sua avó materna e que vinha da recuperação de uma séria colisão frontal. Eu o convidei e expliquei detalhadamente a minha proposta, que era a de ir à Granja N. S. da Conceição, em Bebedouro, na tarde de sábado, pois o Governador, Major Luiz Cavalcante, sempre ia lá nesse horário para pessoalmente administrar os serviços da granja. A Kombi 1962 foi a nossa ferramenta para alcançar o interior da granja e poder abordar um humilde servidor à beira do caminho. Este nos informou e nos animou a ir até ao Governador, indicando o galpão onde ele estava e até os detalhes da mesinha onde ele estaria sentado para inspecionar as anotações e documentos referentes à administração do empreendimento. Bastante nervosos e apreensivos nos aproximamos do improvisado escritório. Ele nos recebeu cordialmente, olhou por cima dos óculos e perguntou pelos nossos nomes completos, anotando-os numa folha de papel. Em seguida, ele nos orientou para ir à sede do Departamento de Estradas de Rodagem (D.E.R.) e procurar o Dr. Antônio Araújo. Logo na próxima segunda-feira, fomos recebidos com muita alegria pelo simpático doutor, que nos perguntou onde queríamos fazer o estágio. Meu colega escolheu o D.E.R. e eu o Departamento de Obras Públicas (D.O.P.), onde permaneci por cerca de seis anos e sete meses. Em dezembro de 1967, houve a nossa formatura e eu fui promovido a engenheiro do Departamento, conforme figuras 4 a 7. Em setembro de 1970, esse Órgão foi extinto e todos nós fomos demitidos, dando lugar a um órgão substituto, denominado Serviços de Engenharia do Estado de Alagoas (SERVEAL).
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        2 – MOTIVAÇÃO – O sentimento que ainda guardo de que não somos capazes de descobrir rapidamente as causas do que nos afligem ou que nos impede de realizar alguns sonhos, geralmente brotados na juventude ou até durante nossa infância, sempre me levou a registrar um grande número de ocorrências que, se articuladas e sintetizadas convenientemente, pode-nos levar a uma indescritível sensação do dever cumprido. Esse sentimento de realização deve ser compartilhado com quem tem aspirações semelhantes, e o fato de tornar público essas descobertas através de textos ilustrados pode se tornar uma forma de abreviar os caminhos dos que lutam por uma sociedade mais justa.
            Por exemplo, a Bibliografia 7.1, consta de um livro escrito pelo nosso professor das Matérias de Construção Civil e Cálculo de Concreto Armado, na Escola de Engenharia Civil da UFAL, que documenta muita coisa que eu sequer imaginava na época: os nomes citados nas págs. 278 e 279, Everaldo de Oliveira Castro, Jalbas Tavares Lira, Milton Leite Soares, Fernando Cardoso Gama e Manoel Machado Ramalho de Azevedo, vieram a se tornar os nossos professores na Escola de Engenharia. Assim, a informação por si só não é decisiva, mas será sempre imprescindível, cabendo ao leitor estabelecer as conexões e as devidas avaliações a partir dos dados adquiridos.





Fig. A2 – Carteira de Trabalho (2) 



Fig. A3– Carteira de Trabalho (3)


Fig. A4– Carteira de Trabalho (4)


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Fig. A5– Carteira de Trabalho (5)



Fig. A6– Carteira de Trabalho (6)

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Fig. A7– Carteira de Trabalho (7)



            3 – TRABALHO REALIZADO – A minha expectativa era de aprender, o que estava compatível com a minha suposta função de estagiário. Contudo, conforme consta na Fig. A3, o meu cargo era de Fiscal de Obras. O Fiscal de Obras, como funcionário público estadual, tinha as atribuições de medir o trabalho executado pelos empreiteiros, avaliar a qualidade desse trabalho, e preparar o relatório para o pagamento semanal dos serviços realizados. Nunca se cogitou que deveria haver um plano de treinamento para o estagiário, com os itens devidamente especificados e com um supervisor que orientasse e avaliasse o desempenho do candidato, ou coisa semelhante. Mais tarde, já no curso de pós-graduação, comecei a ouvir de profissionais menos apensos a seguir as regras sociais do “Respeito Humano”, de que os estudantes de medicina já colocam uma bata branca nos primeiros anos de estudo e acompanham um médico mais experiente para participar dos atendimentos médicos nos hospitais, enquanto que os estudantes de engenharia se restringem às aulas teóricas.
            Ao chegar ao D.O.P. para desempenhar o meu trabalho, não houve uma apresentação dos diversos setores ou pessoal do Departamento, nem de metas de desenvolvimento dos trabalhos ou objetivos a serem alcançados, mas fui atrelado à Seção Técnica, que era uma sala no 2o andar, com diversas subdivisões com paredes divisórias de madeira. A maior dessas subdivisões era a sala das pranchetas, onde ficavam os desenhistas, entre eles o Artur Obino, que era respeitado e admirado por todos. Ali foi o meu refúgio até à extinção final do D.O.P. Fiz trabalhos de desenho, monitorado espontaneamente pelo Artur Obino, devido à sua grande habilidade no manejo das canetas a Nanquim e do papel vegetal. Ele também orientava a todos nos desenhos de arquitetura, principalmente os de casas residenciais a serem aprovados pela prefeitura, pois fazia trabalhos de desenho para a Arquiteta Zélia Maia Nobre, de onde proveio os seus conhecimentos técnicos. A propósito, a Arquiteta Zélia Maia Nobre ocupava a Chefia da Seção Técnica do D.O.P. e era nossa professora da disciplina de Arquitetura na Escola de Engenharia.
            Aos poucos, fui descobrindo que mais adiante da porta de entrada para a Sessão Técnica tinha um enorme galpão, que era a Oficina do D.O.P. Nelson, o Chefe da Oficina, era o mais conhecido, mas tinha mecânicos e ajudantes capazes de fazer a manutenção dos veículos do Departamento. O motorista mais famoso era o “Coqueiro”, por ser alto e magro. Ele era apegado a uma Pick-up Willys e costumava levar todos os

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 apetrechos de confecção de rede de pesca, “Tarrafa”, que amarrava no retrovisor do veículo e ficava tecendo nas paradas mais demoradas. O Edilson era o motorista do caminhão Chevrolet, recém-adquirido pelo Departamento. Era orgulhoso do seu imponente veículo e o único a dirigi-lo. No centro do terreno tinha o prédio onde ficava o diretor do D.O.P., a secretária, Dilma Cavalcante da Silva (Ver Fig. A3), e o diretor administrativo, conhecido por Perdigão. O Perdigão vinha com seu Fusca bege e bem conservado, vestia-se bem e costumava usar uma alpercata tipo sertaneja. Ele tinha o Departamento na palma da mão, pois preparava toda a documentação de prestação de contas financeira anual perante os órgãos de fiscalização do Governo. Além disso, ele preparava as folhas de pagamento, as compras de material e tinha um grande talento para liderar todos os funcionários. Entre esses funcionários existia o pessoal de obra, cerca de trezentos, entre pedreiros, pintores, armadores e serventes. Eles ficavam nas imediações do almoxarifado, atrás do prédio central e do posto de gasolina. O posto de gasolina ficava no centro do pátio, que separava o prédio central do almoxarifado.
            Com o passar dos anos, fui ficando seguro na minha função de Fiscal de Obras do Estado. Veio o meu status de engenheiro, e pudemos até perceber alguns lampejos de progresso, como a contratação de novos estagiários. Um desses estagiários foi o Edson Casado Gonçalves (Ver Fig. 8).

Fig. 8 – Edson Casado Gonçalves, estagiário do D.O.P.

            O que se pode resumir é que os engenheiros tinham uma relação direta com o Diretor do D.O.P., pois os serviços eram despachados em forma de Processos, os quais provinham da Secretaria de Obras, retratando as diversas necessidades do Governo, como as construções de hospitais, escolas, creches, delegacias, presídios, repartições, ou reformas e conservações em prédios desse tipo ou até no Palácio do Governo e nos prédios da Guarda do Palácio. Os engenheiros eram também requisitados para as avaliações de prédios a serem adquiridos pelo Governo, no auxílio às perícias criminais, ou até para atuarem nas avaliações dos danos causados por calamidades públicas, como o transbordamento do Rio Mundaú nas cidades de S. José da Lage e de União dos Palmares (Ver figuras de 9 a 26). 

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Fig. 9 – Cheia de União dos Palmares, Rocha Cavalcante.

Fig. 10 – Cheia de União dos Palmares.

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 Fig. 11 – Cheia de União dos Palmares.

Fig. 12 – Cheia de União dos Palmares.

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Fig. 13 – Cheia de União dos Palmares.
Fig. 14 – Cheia de União dos Palmares.

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Fig. 15 – Cheia de União dos Palmares.

Fig. 16 – Cheia de União dos Palmares.

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Fig. 17 – Cheia de União dos Palmares, Rua da Ponte.

Fig. 18 – Cheia de União dos Palmares.


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Fig. 19 – Cheia de União dos Palmares.


Fig. 20 – Cheia de União dos Palmares.


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Fig. 21 – Cheia de União dos Palmares, Rua da Ponte.


Fig. 22 – Cheia de União dos Palmares.

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Fig. 23 – Cheia de União dos Palmares, margem esquerda, abaixo da ponte.



Fig. 24 – Cheia de União dos Palmares, margem esquerda, abaixo da ponte.


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 Fig. 25 – Cheia de União dos Palmares.


Fig. 26 – Cheia de União dos Palmares (Edson, Francisco, Márcio e o motorista do D.O.P..


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           Outra tarefa, da qual fui incumbido inesperadamente, foi a de ser o Diretor do D.O.P. (Ver Fig. 27). Isso ocorreu devido à necessidade do nosso professor de cálculo numérico, Jandir Tourinho de Paiva, que ocupava o cargo de Diretor nessa época, ter que se ausentar devido à uma viagem à cidade do Rio de Janeiro. Fui chamado pelo Secretário de Viação e Obras Públicas do Estado, Cel. Bentes, ao seu gabinete no 2o andar do Prédio para tomar conhecimento dessa nova incumbência. No final da primeira semana, chegaram aos meus ouvidos rumores de que alguns funcionários teriam retirado veículos do Departamento para passar o fim de semana em Paripueira. Tudo deve ter sido verdade porque eu fiz um esforço junto ao Perdigão para que ele esclarecesse tudo. Fui até à residência dele, mas tudo em vão, com exceção de que ele aceitou redigir uma punição para os infratores, entre eles o motorista Manoel que foi punido com três dias de suspensão. Fui ter com o Cel. Bentes para receber um apoio ou uma orientação sobre o que fazer para não perder a disciplina no Departamento, mas não percebi maior interesse. Somando-se a esse incidente, que me deixou antipatizado no ambiente de trabalho, veio a notícia de que os funcionários estariam amotinados porque a verba para o pagamento deles não havia sido liberada. Procurei me informar com quem deveria falar e onde deveria ir para sanar esse problema. A solução foi me dirigir a um prédio situado próximo à Assembléia Legislativa e procurar saber o motivo da irregularidade. Finalmente, o pagamento foi autorizado. Resolvi procurar o Cel. Bentes e dizer que não queria mais ser Diretor do D.O.P, acontecesse o que acontecesse, e que não assinaria mais qualquer documento como titular dessa função daquele momento em diante, e assim foi feito.




Fig. 27 – Francisco José Lins Peixoto, como Diretor do D.O.P.


           4 – CONFLITOS DO TRABALHO – A exemplo do que narramos no final do item anterior, eu tinha que “sobreviver” aos diversos tipos de investidas contra o meu carácter, o carácter que eu deliberadamente queria construir. O fato dos recebimentos semanais dos empreiteiros subordinados a mim, passavam pela minha aprovação da obra e pelas medições efetuadas por mim para elaboração da folha de pagamento, já geravam situações conflituosas. Tinha o empreiteiro José Maria, trazido ao D.O.P. pelo professor Jandir Tourinho de Paiva, ex-colega da professora Zélia Maia Nobre na Escola de Arquitetura da cidade do Recife, pois era o braço direito dele nas suas construções particulares, que acompanhava as medições de suas obras, e até me ajudava no exercício dessa função. Ele era um cidadão modesto, de voz fraca e mansa, quase não falava, parecia ter uma admiração pela forma como eu dialogava com todos. Mas esse não era o padrão mais comum, houve o caso de um empreiteiro, Natalício, um moreno forte e de grande estatura, que teria prometido me “pegar” na obra. Ele foi extremamente ríspido durante as medições, sempre alegando que as folhas feitas pelo Dr. Antônio Araújo eram mais favoráveis a ele do que as minhas, mas não me agrediu fisicamente. Quem me informou da ameaça do Natalício para que eu me precavesse foi o meu ex-colega Eng. Hamilton Lessa Lobo. Eu procurava responder às suas alegações com muita calma e paciência, sempre explicando que eu aplicava os conceitos matemáticos para cálculo de áreas e volumes, mas que os meus cálculos poderiam ser contestados por ele ou ele poderia solicitar outro fiscal para refazer as medições etc. Outro caso emblemático que muito me decepcionou foi o de outro

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 empreiteiro que construía uma creche no bairro do Vergel do Lago sob minha fiscalização, meu ex-professor na Escola de Engenharia. Ele queria que eu adiantasse a folha de pagamento sem a conclusão dos trabalhos, ao que me recusei terminantemente. Outro conflito surgiu quando fui solicitado para fazer parte de várias avaliações para desapropriações de imóveis sob a presidência do Dr. Antônio Araújo. Eu nunca tinha participado desse tipo de atividade e tinha sempre outros colegas como membros dessas comissões, inclusive o Hamilton Lessa Lobo. Acontecia que o simpático Dr. Antônio Araújo trazia o documento com a avaliação já elaborada e explicava que nós como membros da comissão, tínhamos o direito de propor outra avaliação, mas também poderíamos simplesmente assinar em baixo e mais nada. Fizemos isso nas primeiras vezes, porém eu fiquei curioso sobre o assunto, sobretudo do fato da gentileza de nos dispensar do trabalho. A próxima avaliação era de um imóvel numa cidade do Norte do Estado. Fiz uma pesquisa sobre o assunto técnico de avaliações e me senti seguro para o feito. Em seguida, solicitei uma viatura ao Departamento, que por coincidência foi dirigida pelo Manoel, o mesmo motorista que havia sido punido na minha gestão como Diretor. Fiquei surpreso porque ele não demonstrou rancor e conversou durante a viagem com todo respeito. O resultado foi que apresentei o minha avaliação em separado, cerca de 50% do valor apresentado pelo Presidente da Comissão. Fiquei aguardando, mas nenhuma represália aconteceu, só que nunca mais fui convidado para ser membro de Comissões de Avaliação.

5 – CONSEQUÊNCIAS DOS CONFLITOS – A consequência imediata foi a piora do ambiente de trabalho, afastando cada vez mais as possibilidades de entrosamento das equipes de trabalho e do surgimento de uma proposta de progresso para o D.O.P..
            Um novo Diretor trouxe uma novidade, que seria um alento para desburocratização. Soubemos que ele era irmão da Arquiteta Zélia Maia Nobre, e era o engenheiro Walter Pessoa. A sistemática que ele apresentou e pôs em prática foi a eliminação de alguns trâmites burocráticos colocando cada Fiscal de Obra com poderes para contratar o seu próprio empreiteiro e realizar as obras sob sua responsabilidade aplicando os preços unitários de uma tabela oficial do Departamento. Parece que os meus colegas aprovaram a idéia e passaram a atuar dessa maneira. Eu me senti inseguro porque a minha intuição sugeria algo parecido com o que se denomina “Legislar em causa Própria”. Segui a lei do silêncio, encampada por todos, mas me precavi quanto ao uso dessa nova regra. Permaneci com os empreiteiros de costume, como o caso do José Maria, e ao surgir uma obra nova contratei um empreiteiro que eu tivesse relativo controle sobre o mesmo, e assim pudesse monitorar os acontecimentos sem despertar suspeita de que eu seria refratário ao novo regulamento. A obra foi a pintura da Guarda do Palácio, já manjada pelas vezes em que fiz o mesmo tipo de serviço naquele local. O empreiteiro foi o Abelardo, primo do meu cunhado, o engenheiro Talvanes Silva Braga, da CEAL. Assim pude verificar que todos estavam aceitando de bom grado a novidade, pois não recebi a mínima reprimenda pelo feito. Logo a seguir veio um novo Diretor, Edson Maia Carlos, que era primo do meu professor de Cálculo de Concreto Armado e Construção Civil, Vinicius Maia Nobre. Talvez este último Diretor já tenha tomado posse com a finalidade de executar a transição entre o D.O.P. e a SERVEAL, pois se tornou o primeiro superintendente dessa nova Estatal. As conversas no pátio do Departamento indicavam que ele era ex-militar com fama de “Durão”. Guardo sempre na memória duas situações conflitantes com relação a esse Diretor: a primeira ocorreu no pátio, entre a bomba de gasolina e o prédio principal do D.O.P., quando o Dr. Edson Maia Carlos se dirigiu a mim para me admoestar dizendo que não admitia um engenheiro da Repartição descarregando um caminhão. Realmente, eu tinha saído na boléia do caminhão com destino à obra que eu estava fiscalizando, porém o Edilson disse que tinha que deixar um material em outra obra primeiro. Essa obra era do lado da linha do trem, na esquina oposta ao antigo cinema Ideal, onde atualmente existe um comércio de peças de bicicleta. Depois que o Edilson estacionou e procurou um lugar para se sentar, esperamos um certo tempo para ver o que ia acontecer. Foi então que o Edilson se pronunciou dizendo que não tinha ninguém para descarregar. Eu indaguei sobre o que tinha para descarregar e ele disse que era apenas uns vinte caibros. Revoltado com a indiferença do motorista, subi no caminhão e joguei os caibros no chão. Foi resolvido o problema. Respondi ao Diretor que fazia isso por convicção, e, percebendo que o engenheiro Hamilton Lessa Lobo estava alguns passos atrás de mim, convoquei a sua cumplicidade nesse tipo de ação e ele acenou positivamente. O Dr. Edson Maia Carlos retirou-se em silêncio. A segunda vez foi quando ele me convocou para uma conversa no Gabinete e acabou me dizendo que tinha um plano para mim: eu iria para o interior para me “capitalizar”, assim eu ficaria responsável por obras no interior do Estado. Já era noite quando eu me retirei em silêncio para pensar no assunto. No dia seguinte, surpreendentemente ele convocou uma reunião geral com todos os engenheiros e começou a explanação sobre as medidas que ia tomar. até que chegou num ponto em que ele se dirigiu a mim para que eu confirmasse o meu consentimento sobre a conversa que tivemos no dia anterior. Foi aí que eu me senti como o alvo da reunião. Com bastante calma respondi: “Ninguém pode ser condenado por pensar e eu disse que ia

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 pensar. Independente disso eu autorizo o Senhor a repetir para todos aqui o conteúdo da nossa conversa de ontem. Se o relato for verdadeiro, terá a minha confirmação agora”. Ele se mostrou irado, deu um soco na mesa e autorizou todos a se retirar. Do lado de fora, eu contei todo o conteúdo da conversa e todos deram risadas, principalmente o meu dileto cúmplice, o Fiscal de Obras e Engenheiro Hamilton Lessa Lobo. Hamilton jogava na pelada que eu também frequentava (Ver bibliografia 7.2), conforme mostramos na fig. 28 um extrato desse livro escrito pelo Dr. Everaldo Lemos. O autor do livro se esqueceu de mencionar o nome do Hamilton, mas vamos aproveitar para registrar o nome do Itamar, que era desenhista do D.O.P, além do Celso Araújo (Xexéu), que também era desenhista do D.O.P., segundo os boatos da época, embora nós nunca o tivéssemos visto por lá.




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Fig. 28 – Extrato da Bibliografia 7.2


Fig. 29 – Local da Pelada.


A Fig. 29 mostra a única foto minha (Chicão), tirada por minha iniciativa, na época da pelada.

            Por último, eu fui designado para administrar a construção da cerca de estacas de concreto armado do novo local do aeroclube, no Tabuleiro dos Martins. Dessa vez, e de forma inusitada, seria tudo executado com os operários do próprio departamento. Quando cheguei ao local já havia um local coberto para abrigar o pessoal e alguma coisa já iniciada. A turma era numerosa e as lideranças bastante irreverentes. Um deles chegou logo perto e começou a me sondar, escarrando no terreno bem na minha frente. Eu o repreendi com muita

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 naturalidade dizendo que aquilo era uma falta de educação. Todos acharam graça transformando tudo num ambiente de descontração e camaradagem. Logo em seguida eles tinham um problema de transportar umas telhas de amianto para um outro local, logo adiante. Sem titubear, retirei os meus sapatos e coloquei uma das telhas na cabeça, em seguida fui marchando em direção ao local desejado. Para minha surpresa, vi que uma fila de homens com telhas na cabeça havia se formado e tudo foi rapidamente resolvido. Nos dias que se seguiram, a convivência com eles passou a ser prazerosa e o serviço foi progredindo facilmente até que recebemos a notícia de que a obra não seria mais executada pelo pessoal do D.O.P..

6 – CONCLUSÕES –

            6.1 – O D.O.P não dispunha de reuniões habituais com os funcionários que visassem a melhoria ou modernização do trabalho.
            6.2 – Não havia um cuidado com a parte social, pois não tínhamos comemorações ou atividades que incentivassem o conhecimento mútuo.
            6.3 – As falhas apontadas nos itens 6.1 e 6.2 possibilitavam o desconhecimento das atribuições de cada colega ou da quantidade real de funcionários pagos pelo Departamento, a ponto de se ouvirem boatos até de que havia funcionários que recebiam horas extras gratuitamente, contanto que devolvessem uma parte ao que autorizava o pagamento deste bônus.
            6.4 – O relato que apresentamos neste texto deve estar longe de descrever todos os aspectos envolvidos numa Entidade Pública da envergadura do D.O.P. do Estado de Alagoas. Por exemplo, devido ao meu desconhecimento da história do Departamento, não foi mencionada a data de sua fundação ou a dinâmica das licitações para obras mais importantes, pois nunca participei dessa atividade. Desconheço também se há a possibilidade de se resgatar os arquivos com a documentação de tudo que ocorreu durante a existência do D.OP.. Fica aberta a possibilidade de alguém encetar uma pesquisa sobre a história desse Órgão Público, pois houve também um boato de que ele foi extinto por um decreto estadual, enquanto foi criado por um decreto federal. O prédio do D.O.P. e da Secretaria de Viação e Obras Públicas ainda existe (Ver figura da Capa), resta saber se a documentação ainda se encontra lá.


     7 – BIBLIOGRAFIA - 

7.1 – Meus caminhos – Prof. Vinicius Maia Nobre, 316 páginas, Q Gráfica, Campus Universitário, Br 101, Km 96,7, Tabuleiro dos Martins, Maceió/AL.
7.2 – E agora, Mané? – Everaldo Lemos – Maceió/AL, 2011, 91 páginas.







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