Departamento de Obras Públicas
do Estado de Alagoas (D.O.P.)
Prédio do D.O.P., em 27/04/17.
ÍNDICE
1 – INTRODUÇÃO –
2 – MOTIVAÇÃO –
3 – TRABALHO REALIZADO –
4 – CONFLITOS DO TRABALHO –
5 – CONSEQUÊNCIAS DOS CONFLITOS –
6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES –
7 – BIBLIOGRAFIA -
1 –
INTRODUÇÃO - No dia 01/03/64, comecei o meu estágio nessa
Autarquia, conforme o documento apresentado nas figuras A1, A2 e A3.
Fig. A1 – Carteira de Trabalho
(1)
Esse
primeiro emprego foi uma consequência da minha aprovação no concurso para a
Escola de Engenharia no início do ano de 1963. Como fizemos as primeiras
disciplinas teóricas durante o primeiro ano de estudos, fiquei impaciente por
não vislumbrar uma forma de aquisição da prática da engenharia. Tive uma idéia
e arquitetei um plano para conseguir um estágio condizente com esse desejo. Meu
colega do grupo de trabalhos escolares e futuro cunhado, Talvanes Silva Braga,
dispunha de uma Kombi 1962, presenteada por sua avó materna e que vinha da
recuperação de uma séria colisão frontal. Eu o convidei e expliquei
detalhadamente a minha proposta, que era a de ir à Granja N. S. da Conceição,
em Bebedouro, na tarde de sábado, pois o Governador, Major Luiz Cavalcante,
sempre ia lá nesse horário para pessoalmente administrar os serviços da granja.
A Kombi 1962 foi a nossa ferramenta para alcançar o interior da granja e poder
abordar um humilde servidor à beira do caminho. Este nos informou e nos animou
a ir até ao Governador, indicando o galpão onde ele estava e até os detalhes da
mesinha onde ele estaria sentado para inspecionar as anotações e documentos
referentes à administração do empreendimento. Bastante nervosos e apreensivos
nos aproximamos do improvisado escritório. Ele nos recebeu cordialmente, olhou
por cima dos óculos e perguntou pelos nossos nomes completos, anotando-os numa
folha de papel. Em seguida, ele nos orientou para ir à sede do Departamento de
Estradas de Rodagem (D.E.R.) e procurar o Dr. Antônio Araújo. Logo na próxima
segunda-feira, fomos recebidos com muita alegria pelo simpático doutor, que nos
perguntou onde queríamos fazer o estágio. Meu colega escolheu o D.E.R. e eu o
Departamento de Obras Públicas (D.O.P.), onde permaneci por cerca de seis anos
e sete meses. Em dezembro de 1967, houve a nossa formatura e eu fui promovido a
engenheiro do Departamento, conforme figuras 4 a 7. Em setembro de 1970, esse
Órgão foi extinto e todos nós fomos demitidos, dando lugar a um órgão substituto,
denominado Serviços de Engenharia do Estado de Alagoas (SERVEAL).
2 –
MOTIVAÇÃO – O sentimento que ainda guardo de que não somos capazes de descobrir
rapidamente as causas do que nos afligem ou que nos impede de realizar alguns
sonhos, geralmente brotados na juventude ou até durante nossa infância, sempre
me levou a registrar um grande número de ocorrências que, se articuladas e
sintetizadas convenientemente, pode-nos levar a uma indescritível sensação do
dever cumprido. Esse sentimento de realização deve ser compartilhado com quem
tem aspirações semelhantes, e o fato de tornar público essas descobertas
através de textos ilustrados pode se tornar uma forma de abreviar os caminhos
dos que lutam por uma sociedade mais justa.
Por
exemplo, a Bibliografia 7.1, consta de um livro escrito pelo nosso professor
das Matérias de Construção Civil e Cálculo de Concreto Armado, na Escola de
Engenharia Civil da UFAL, que documenta muita coisa que eu sequer imaginava na
época: os nomes citados nas págs. 278 e 279, Everaldo de Oliveira Castro,
Jalbas Tavares Lira, Milton Leite Soares, Fernando Cardoso Gama e Manoel
Machado Ramalho de Azevedo, vieram a se tornar os nossos professores na Escola
de Engenharia. Assim, a informação por si só não é decisiva, mas será sempre
imprescindível, cabendo ao leitor estabelecer as conexões e as devidas
avaliações a partir dos dados adquiridos.
Fig. A2 – Carteira de Trabalho
(2)
Fig. A3– Carteira de Trabalho
(3)
Fig. A4– Carteira de Trabalho (4)
Página 3
Fig. A5– Carteira de Trabalho (5)
Fig. A6– Carteira de Trabalho (6)
Página 5
Fig. A7– Carteira de Trabalho (7)
3 – TRABALHO REALIZADO – A minha
expectativa era de aprender, o que estava compatível com a minha suposta função
de estagiário. Contudo, conforme consta na Fig. A3, o meu cargo era de Fiscal
de Obras. O Fiscal de Obras, como funcionário público estadual, tinha as
atribuições de medir o trabalho executado pelos empreiteiros, avaliar a
qualidade desse trabalho, e preparar o relatório para o pagamento semanal dos
serviços realizados. Nunca se cogitou que deveria haver um plano de treinamento
para o estagiário, com os itens devidamente especificados e com um supervisor
que orientasse e avaliasse o desempenho do candidato, ou coisa semelhante. Mais
tarde, já no curso de pós-graduação, comecei a ouvir de profissionais menos
apensos a seguir as regras sociais do “Respeito Humano”, de que os estudantes
de medicina já colocam uma bata branca nos primeiros anos de estudo e
acompanham um médico mais experiente para participar dos atendimentos médicos
nos hospitais, enquanto que os estudantes de engenharia se restringem às aulas
teóricas.
Ao
chegar ao D.O.P. para desempenhar o meu trabalho, não houve uma apresentação
dos diversos setores ou pessoal do Departamento, nem de metas de
desenvolvimento dos trabalhos ou objetivos a serem alcançados, mas fui atrelado
à Seção Técnica, que era uma sala no 2o andar, com diversas
subdivisões com paredes divisórias de madeira. A maior dessas subdivisões era a
sala das pranchetas, onde ficavam os desenhistas, entre eles o Artur Obino, que
era respeitado e admirado por todos. Ali foi o meu refúgio até à extinção final
do D.O.P. Fiz trabalhos de desenho, monitorado espontaneamente pelo Artur
Obino, devido à sua grande habilidade no manejo das canetas a Nanquim e do
papel vegetal. Ele também orientava a todos nos desenhos de arquitetura,
principalmente os de casas residenciais a serem aprovados pela prefeitura, pois
fazia trabalhos de desenho para a Arquiteta Zélia Maia Nobre, de onde proveio
os seus conhecimentos técnicos. A propósito, a Arquiteta Zélia Maia Nobre
ocupava a Chefia da Seção Técnica do D.O.P. e era nossa professora da
disciplina de Arquitetura na Escola de Engenharia.
Aos
poucos, fui descobrindo que mais adiante da porta de entrada para a Sessão
Técnica tinha um enorme galpão, que era a Oficina do D.O.P. Nelson, o Chefe da
Oficina, era o mais conhecido, mas tinha mecânicos e ajudantes capazes de fazer
a manutenção dos veículos do Departamento. O motorista mais famoso era o
“Coqueiro”, por ser alto e magro. Ele era apegado a uma Pick-up Willys e
costumava levar todos os
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apetrechos de confecção de rede de pesca, “Tarrafa”,
que amarrava no retrovisor do veículo e ficava tecendo nas paradas mais
demoradas. O Edilson era o motorista do caminhão Chevrolet, recém-adquirido
pelo Departamento. Era orgulhoso do seu imponente veículo e o único a
dirigi-lo. No centro do terreno tinha o prédio onde ficava o diretor do D.O.P.,
a secretária, Dilma Cavalcante da Silva (Ver Fig. A3), e o diretor
administrativo, conhecido por Perdigão. O Perdigão vinha com seu Fusca bege e
bem conservado, vestia-se bem e costumava usar uma alpercata tipo sertaneja.
Ele tinha o Departamento na palma da mão, pois preparava toda a documentação de
prestação de contas financeira anual perante os órgãos de fiscalização do
Governo. Além disso, ele preparava as folhas de pagamento, as compras de
material e tinha um grande talento para liderar todos os funcionários. Entre
esses funcionários existia o pessoal de obra, cerca de trezentos, entre
pedreiros, pintores, armadores e serventes. Eles ficavam nas imediações do
almoxarifado, atrás do prédio central e do posto de gasolina. O posto de
gasolina ficava no centro do pátio, que separava o prédio central do almoxarifado.
Com
o passar dos anos, fui ficando seguro na minha função de Fiscal de Obras do
Estado. Veio o meu status de engenheiro, e pudemos até perceber alguns lampejos
de progresso, como a contratação de novos estagiários. Um desses estagiários
foi o Edson Casado Gonçalves (Ver Fig. 8).
Fig. 8 – Edson Casado
Gonçalves, estagiário do D.O.P.
O
que se pode resumir é que os engenheiros tinham uma relação direta com o
Diretor do D.O.P., pois os serviços eram despachados em forma de Processos, os
quais provinham da Secretaria de Obras, retratando as diversas necessidades do Governo,
como as construções de hospitais, escolas, creches, delegacias, presídios,
repartições, ou reformas e conservações em prédios desse tipo ou até no Palácio
do Governo e nos prédios da Guarda do Palácio. Os engenheiros eram também
requisitados para as avaliações de prédios a serem adquiridos pelo Governo, no
auxílio às perícias criminais, ou até para atuarem nas avaliações dos danos
causados por calamidades públicas, como o transbordamento do Rio Mundaú nas
cidades de S. José da Lage e de União dos Palmares (Ver figuras de 9 a 26).
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Fig. 9 – Cheia de União dos
Palmares, Rocha Cavalcante.
Fig. 10 – Cheia de União dos
Palmares.
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Fig. 11 – Cheia de União dos
Palmares.
Fig. 12 – Cheia de União dos
Palmares.
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Fig. 13 – Cheia de União dos
Palmares.
Fig. 14 – Cheia de União dos
Palmares.
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Fig. 15 – Cheia de União dos
Palmares.
Fig. 16 – Cheia de União dos
Palmares.
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Fig. 17 – Cheia de União dos
Palmares, Rua da Ponte.
Fig. 18 – Cheia de União dos
Palmares.
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Fig. 19 – Cheia de União dos
Palmares.
Fig. 20 – Cheia de União dos
Palmares.
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Fig. 21 – Cheia de União dos
Palmares, Rua da Ponte.
Fig. 22 – Cheia de União dos
Palmares.
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Fig. 23 – Cheia de União dos Palmares,
margem esquerda, abaixo da ponte.
Fig. 24 – Cheia de União dos
Palmares, margem esquerda, abaixo da ponte.
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Fig. 25 – Cheia de União dos
Palmares.
Fig. 26 – Cheia de União dos
Palmares (Edson, Francisco, Márcio e o motorista do D.O.P..
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Outra tarefa, da qual fui incumbido inesperadamente, foi a de ser o Diretor do D.O.P. (Ver Fig. 27). Isso ocorreu devido à necessidade do nosso professor de cálculo numérico, Jandir Tourinho de Paiva, que ocupava o cargo de Diretor nessa época, ter que se ausentar devido à uma viagem à cidade do Rio de Janeiro. Fui chamado pelo Secretário de Viação e Obras Públicas do Estado, Cel. Bentes, ao seu gabinete no 2o andar do Prédio para tomar conhecimento dessa nova incumbência. No final da primeira semana, chegaram aos meus ouvidos rumores de que alguns funcionários teriam retirado veículos do Departamento para passar o fim de semana em Paripueira. Tudo deve ter sido verdade porque eu fiz um esforço junto ao Perdigão para que ele esclarecesse tudo. Fui até à residência dele, mas tudo em vão, com exceção de que ele aceitou redigir uma punição para os infratores, entre eles o motorista Manoel que foi punido com três dias de suspensão. Fui ter com o Cel. Bentes para receber um apoio ou uma orientação sobre o que fazer para não perder a disciplina no Departamento, mas não percebi maior interesse. Somando-se a esse incidente, que me deixou antipatizado no ambiente de trabalho, veio a notícia de que os funcionários estariam amotinados porque a verba para o pagamento deles não havia sido liberada. Procurei me informar com quem deveria falar e onde deveria ir para sanar esse problema. A solução foi me dirigir a um prédio situado próximo à Assembléia Legislativa e procurar saber o motivo da irregularidade. Finalmente, o pagamento foi autorizado. Resolvi procurar o Cel. Bentes e dizer que não queria mais ser Diretor do D.O.P, acontecesse o que acontecesse, e que não assinaria mais qualquer documento como titular dessa função daquele momento em diante, e assim foi feito.

Fig. 27 – Francisco José Lins
Peixoto, como Diretor do D.O.P.
4 –
CONFLITOS DO TRABALHO – A
exemplo do que narramos no final do item anterior, eu tinha que “sobreviver”
aos diversos tipos de investidas contra o meu carácter, o carácter que eu
deliberadamente queria construir. O fato dos recebimentos semanais dos
empreiteiros subordinados a mim, passavam pela minha aprovação da obra e pelas
medições efetuadas por mim para elaboração da folha de pagamento, já geravam
situações conflituosas. Tinha o empreiteiro José Maria, trazido ao D.O.P. pelo
professor Jandir Tourinho de Paiva, ex-colega da professora Zélia Maia Nobre na
Escola de Arquitetura da cidade do Recife, pois era o braço direito dele nas
suas construções particulares, que acompanhava as medições de suas obras, e até
me ajudava no exercício dessa função. Ele era um cidadão modesto, de voz fraca
e mansa, quase não falava, parecia ter uma admiração pela forma como eu
dialogava com todos. Mas esse não era o padrão mais comum, houve o caso de um
empreiteiro, Natalício, um moreno forte e de grande estatura, que teria
prometido me “pegar” na obra. Ele foi extremamente ríspido durante as medições,
sempre alegando que as folhas feitas pelo Dr. Antônio Araújo eram mais
favoráveis a ele do que as minhas, mas não me agrediu fisicamente. Quem me
informou da ameaça do Natalício para que eu me precavesse foi o meu ex-colega
Eng. Hamilton Lessa Lobo. Eu procurava responder às suas alegações com muita
calma e paciência, sempre explicando que eu aplicava os conceitos matemáticos
para cálculo de áreas e volumes, mas que os meus cálculos poderiam ser
contestados por ele ou ele poderia solicitar outro fiscal para refazer as
medições etc. Outro caso emblemático que muito me decepcionou foi o de outro
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empreiteiro que construía uma creche no bairro do Vergel do Lago sob minha
fiscalização, meu ex-professor na Escola de Engenharia. Ele queria que eu
adiantasse a folha de pagamento sem a conclusão dos trabalhos, ao que me
recusei terminantemente. Outro conflito surgiu quando fui solicitado para fazer
parte de várias avaliações para desapropriações de imóveis sob a presidência do
Dr. Antônio Araújo. Eu nunca tinha participado desse tipo de atividade e tinha
sempre outros colegas como membros dessas comissões, inclusive o Hamilton Lessa
Lobo. Acontecia que o simpático Dr. Antônio Araújo trazia o documento com a
avaliação já elaborada e explicava que nós como membros da comissão, tínhamos o
direito de propor outra avaliação, mas também poderíamos simplesmente assinar
em baixo e mais nada. Fizemos isso nas primeiras vezes, porém eu fiquei curioso
sobre o assunto, sobretudo do fato da gentileza de nos dispensar do trabalho. A
próxima avaliação era de um imóvel numa cidade do Norte do Estado. Fiz uma
pesquisa sobre o assunto técnico de avaliações e me senti seguro para o feito.
Em seguida, solicitei uma viatura ao Departamento, que por coincidência foi
dirigida pelo Manoel, o mesmo motorista que havia sido punido na minha gestão
como Diretor. Fiquei surpreso porque ele não demonstrou rancor e conversou
durante a viagem com todo respeito. O resultado foi que apresentei o minha
avaliação em separado, cerca de 50% do valor apresentado pelo Presidente da
Comissão. Fiquei aguardando, mas nenhuma represália aconteceu, só que nunca
mais fui convidado para ser membro de Comissões de Avaliação.
5 – CONSEQUÊNCIAS DOS CONFLITOS – A
consequência imediata foi a piora do ambiente de trabalho, afastando cada vez
mais as possibilidades de entrosamento das equipes de trabalho e do surgimento
de uma proposta de progresso para o D.O.P..
Um
novo Diretor trouxe uma novidade, que seria um alento para desburocratização.
Soubemos que ele era irmão da Arquiteta Zélia Maia Nobre, e era o engenheiro
Walter Pessoa. A sistemática que ele apresentou e pôs em prática foi a
eliminação de alguns trâmites burocráticos colocando cada Fiscal de Obra com
poderes para contratar o seu próprio empreiteiro e realizar as obras sob sua
responsabilidade aplicando os preços unitários de uma tabela oficial do
Departamento. Parece que os meus colegas aprovaram a idéia e passaram a atuar
dessa maneira. Eu me senti inseguro porque a minha intuição sugeria algo
parecido com o que se denomina “Legislar em causa Própria”. Segui a lei do
silêncio, encampada por todos, mas me precavi quanto ao uso dessa nova regra.
Permaneci com os empreiteiros de costume, como o caso do José Maria, e ao
surgir uma obra nova contratei um empreiteiro que eu tivesse relativo controle
sobre o mesmo, e assim pudesse monitorar os acontecimentos sem despertar
suspeita de que eu seria refratário ao novo regulamento. A obra foi a pintura
da Guarda do Palácio, já manjada pelas vezes em que fiz o mesmo tipo de serviço
naquele local. O empreiteiro foi o Abelardo, primo do meu cunhado, o engenheiro
Talvanes Silva Braga, da CEAL. Assim pude verificar que todos estavam aceitando
de bom grado a novidade, pois não recebi a mínima reprimenda pelo feito. Logo a
seguir veio um novo Diretor, Edson Maia Carlos, que era primo do meu professor
de Cálculo de Concreto Armado e Construção Civil, Vinicius Maia Nobre. Talvez
este último Diretor já tenha tomado posse com a finalidade de executar a
transição entre o D.O.P. e a SERVEAL, pois se tornou o primeiro superintendente
dessa nova Estatal. As conversas no pátio do Departamento indicavam que ele era
ex-militar com fama de “Durão”. Guardo sempre na memória duas situações
conflitantes com relação a esse Diretor: a primeira ocorreu no pátio, entre a
bomba de gasolina e o prédio principal do D.O.P., quando o Dr. Edson Maia
Carlos se dirigiu a mim para me admoestar dizendo que não admitia um engenheiro
da Repartição descarregando um caminhão. Realmente, eu tinha saído na boléia do
caminhão com destino à obra que eu estava fiscalizando, porém o Edilson disse
que tinha que deixar um material em outra obra primeiro. Essa obra era do lado
da linha do trem, na esquina oposta ao antigo cinema Ideal, onde atualmente
existe um comércio de peças de bicicleta. Depois que o Edilson estacionou e
procurou um lugar para se sentar, esperamos um certo tempo para ver o que ia
acontecer. Foi então que o Edilson se pronunciou dizendo que não tinha ninguém
para descarregar. Eu indaguei sobre o que tinha para descarregar e ele disse
que era apenas uns vinte caibros. Revoltado com a indiferença do motorista,
subi no caminhão e joguei os caibros no chão. Foi resolvido o problema.
Respondi ao Diretor que fazia isso por convicção, e, percebendo que o
engenheiro Hamilton Lessa Lobo estava alguns passos atrás de mim, convoquei a
sua cumplicidade nesse tipo de ação e ele acenou positivamente. O Dr. Edson
Maia Carlos retirou-se em silêncio. A segunda vez foi quando ele me convocou
para uma conversa no Gabinete e acabou me dizendo que tinha um plano para mim:
eu iria para o interior para me “capitalizar”, assim eu ficaria responsável por
obras no interior do Estado. Já era noite quando eu me retirei em silêncio para
pensar no assunto. No dia seguinte, surpreendentemente ele convocou uma reunião
geral com todos os engenheiros e começou a explanação sobre as medidas que ia
tomar. até que chegou num ponto em que ele se dirigiu a mim para que eu
confirmasse o meu consentimento sobre a conversa que tivemos no dia anterior.
Foi aí que eu me senti como o alvo da reunião. Com bastante calma respondi:
“Ninguém pode ser condenado por pensar e eu disse que ia
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pensar. Independente
disso eu autorizo o Senhor a repetir para todos aqui o conteúdo da nossa
conversa de ontem. Se o relato for verdadeiro, terá a minha confirmação agora”.
Ele se mostrou irado, deu um soco na mesa e autorizou todos a se retirar. Do
lado de fora, eu contei todo o conteúdo da conversa e todos deram risadas,
principalmente o meu dileto cúmplice, o Fiscal de Obras e Engenheiro Hamilton Lessa
Lobo. Hamilton jogava na pelada que eu também frequentava (Ver bibliografia 7.2),
conforme mostramos na fig. 28 um extrato desse livro escrito pelo Dr. Everaldo
Lemos. O autor do livro se esqueceu de mencionar o nome do Hamilton, mas vamos
aproveitar para registrar o nome do Itamar, que era desenhista do D.O.P, além
do Celso Araújo (Xexéu), que também era desenhista do D.O.P., segundo os boatos
da época, embora nós nunca o tivéssemos visto por lá.
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Fig. 28 – Extrato da
Bibliografia 7.2
Fig. 29 – Local da Pelada.
A Fig. 29 mostra a única foto
minha (Chicão), tirada por minha iniciativa, na época da pelada.
Por
último, eu fui designado para administrar a construção da cerca de estacas de
concreto armado do novo local do aeroclube, no Tabuleiro dos Martins. Dessa vez,
e de forma inusitada, seria tudo executado com os operários do próprio
departamento. Quando cheguei ao local já havia um local coberto para abrigar o
pessoal e alguma coisa já iniciada. A turma era numerosa e as lideranças
bastante irreverentes. Um deles chegou logo perto e começou a me sondar,
escarrando no terreno bem na minha frente. Eu o repreendi com muita
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naturalidade dizendo que aquilo era uma falta de educação. Todos acharam graça
transformando tudo num ambiente de descontração e camaradagem. Logo em seguida
eles tinham um problema de transportar umas telhas de amianto para um outro
local, logo adiante. Sem titubear, retirei os meus sapatos e coloquei uma das
telhas na cabeça, em seguida fui marchando em direção ao local desejado. Para
minha surpresa, vi que uma fila de homens com telhas na cabeça havia se formado
e tudo foi rapidamente resolvido. Nos dias que se seguiram, a convivência com
eles passou a ser prazerosa e o serviço foi progredindo facilmente até que
recebemos a notícia de que a obra não seria mais executada pelo pessoal do
D.O.P..
6 – CONCLUSÕES –
6.1
– O D.O.P não dispunha de reuniões habituais com os funcionários que visassem a
melhoria ou modernização do trabalho.
6.2
– Não havia um cuidado com a parte social, pois não tínhamos comemorações ou
atividades que incentivassem o conhecimento mútuo.
6.3
– As falhas apontadas nos itens 6.1 e 6.2 possibilitavam o desconhecimento das
atribuições de cada colega ou da quantidade real de funcionários pagos pelo
Departamento, a ponto de se ouvirem boatos até de que havia funcionários que
recebiam horas extras gratuitamente, contanto que devolvessem uma parte ao que
autorizava o pagamento deste bônus.
6.4
– O relato que apresentamos neste texto deve estar longe de descrever todos os
aspectos envolvidos numa Entidade Pública da envergadura do D.O.P. do Estado de
Alagoas. Por exemplo, devido ao meu desconhecimento da história do
Departamento, não foi mencionada a data de sua fundação ou a dinâmica das
licitações para obras mais importantes, pois nunca participei dessa atividade.
Desconheço também se há a possibilidade de se resgatar os arquivos com a
documentação de tudo que ocorreu durante a existência do D.OP.. Fica aberta a
possibilidade de alguém encetar uma pesquisa sobre a história desse Órgão
Público, pois houve também um boato de que ele foi extinto por um decreto
estadual, enquanto foi criado por um decreto federal. O prédio do D.O.P. e da
Secretaria de Viação e Obras Públicas ainda existe (Ver figura da Capa), resta saber se a
documentação ainda se encontra lá.
7 –
BIBLIOGRAFIA -
7.1 – Meus caminhos – Prof.
Vinicius Maia Nobre, 316 páginas, Q Gráfica, Campus Universitário, Br 101, Km
96,7, Tabuleiro dos Martins, Maceió/AL.
7.2 – E agora, Mané? – Everaldo Lemos
– Maceió/AL, 2011, 91 páginas.
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